sábado, fevereiro 17, 2001

 
Nossa quase 1 mes, e estava com saudades, imagine senão estivesse.
Mas o que me fez vir aqui foi um texto que recebi sobre saudades.
Ele não se aplica a mim, mas achei maravilhoso e quis deixar registrado.

Saudade

(Marta Medeiros)

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o
queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa,
um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina
da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e
pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto
de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai
que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade. Saudade da gente
mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades
todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quemse ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se
verem, mas sabiam-se lá. Você podia! ir para o
escritório e ela para o dentista, mas sabiam-se ! onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo,mas sabiam-se
amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou
torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém
sabe como deter. Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num
ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem
fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se
ela ainda usa camisa xadrez. Não saber se ela foi na
consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber
se ele tem comido bem por causa daquela mania de estar
sempre ocupado, se ela tem assistido às aulas de
inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet e
encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu
a estacionar entre dois carros, se ele continua
preferindo Malzebier, se ela continua preferindo
Fanta, se ela continua sorrindo com a! queles olhinhos
apertados, se ele continua dançando daquele jeitinho
enlouquecedor, se ele co! ntinua detestando o McDonald's, se ela
continua lhe amando. Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram
mais compridos, não saber como encontrar tarefas que
lhe cessem o pensamento, não saber como frear as
lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a
dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com
outra, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ela está feliz, e ao mesmo
tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não
querer saber se ele está mais magro, se ela está mais
bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, eainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive
escrevendo o que você, provavelmente, está sentindo
agora depois que acabou de ler...
"Em alguma outra vida, devemos ter feito! algo
de muito grave, para sentirmos tanta saudade..."

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